domingo, 18 de novembro de 2012

Canção de Esperança...

Há quem diga que não se pode fugir do passado e que ele constantemente virá nos buscar com suas verdades por dizer. De minha parte digo... a verdade pode condenar, mas ela redime e condena a há um só tempo. Hoje acordei e sai apressado para passar visitas no hospital... esperava voltar cedo mas fiquei até o final da tarde numa craniotomia. Quando cheguei fui recebido com uma notícia alegre e excêntrica. Meu pai recebera uma visita de um paciente que recebera seus cuidados na década de 70. Tratava-se de um escritor, membro da academia brasileira de letras. Nos idos daqueles tempos conturbados de ditadura, esse escritor foi vitimado por um tiro. na cabeça, recebido pelo meu pai e submetido a intervenção cirúrgica. Ele relatou que depois de acordar procurou meu pai por diversos hospitais da capital sem sucesso e acabou desistindo. Por esses dias ele foi notificado pela prefeitura de Bauru, sobre alguns terrenos que ele tem por aqui e que ele deveria realizar a limpeza. Vindo a prefeitura, enquanto aguardava, contou um pouco dessa historia dramática a atendente que lhe auxiliava e mostrou um dos livros com a dedicatória aos médicos que o ajudaram naquele dia. A moça olhou a contracapa do livro em silêncio por algum tempo e disse: "Mas conheço esse médico... ele é daqui da cidade." O escritor não se conteve... chegou entusiasmado na casa do seu primo contando sua descoberta. O primo riu algo espantado e retrucou "Mas o Mazzucca??? Oras o Mazzucca é meu cliente amigo há anos!!! Ele mora aqui perto..." e através dessa série de coincidências ele chegou a nossa porta, depois de aproximadamente 40 anos. Não deixo de pensar o significado dessa experiência para meu pai, parcialmente restrito ao leito após um acidente vascular encefálico, com um dos braços imobilizado; uma lembrança de que tempo ainda não apagara quem ele fora e que o eco de suas ações ainda ressoava uma canção de esperança e gratidão que a velhice e a tristeza o haviam feito esquecer...

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